Opinião
Mais sobre a insegurança
Jornalista Pablo Rodrigues fala sobre a insegurança que existe em Pelotas; a população cobra cada vez mais o poder público
Leandro Lopes -
O sentimento de insegurança cresce assustadoramente em Pelotas. Caminhar à noite pelas ruas da cidade, ação que há até pouco tempo era comum, tornou-se uma verdadeira aventura. Em cada canto, uma nova espécie de medo se revela. Ninguém está imune à violência, por mais que levante grades - altas, altíssimas - ou distribua câmeras de monitoramento à volta de casa.
O município já registrou mais de 30 assassinatos nestes quatro meses e meio do ano. Muitos deles com bastante crueldade, como o recente homicídio de um jovem atingido por cinco tiros diretamente no rosto enquanto estava sentado dentro de um carro estacionado. Muitos dirão: “Tinha ficha extensa na polícia. Mereceu morrer.” A violência, independentemente de contra quem, é também um pouco contra todo mundo. Sim, porque os males causados, ainda que possam ter aparência de bem, sempre são sociais. Ressalve-se aqui - sem entrar na polêmica do desarmamento - o direito à legítima defesa.
No levantamento “Mapa da violência 2015: mortes matadas por arma de fogo”, pode-se ter uma ideia de parte dos números que têm, ano após ano, assolado o país. Os dados se referem a 2012 - o documento tem a data de sua publicação, três anos depois. Em 2012, portanto, 42.416 pessoas morreram, vítimas de armas de fogo, no Brasil. Foram 116 mortes por dia. Como de costume, os mais afetados foram os jovens: 59% das estatísticas, algo em torno a 68 mortes diárias.
O questionamento poderia começar por este ponto: por que os jovens, pessoas entre 15 e 29 anos, são os que mais morrem? Por que estão em situações de perigo? Por que, entre os jovens que morrem, a maioria é de negros? As possíveis respostas não caberiam neste despretensioso e pequeno texto, mas as simples perguntas ao menos abrem espaço para se buscar entender a violência fora dos nossos esquemas mentais comuns, muitas vezes óbvios e irrefletidos, e sair à cata de entendê-la em sua complexidade social.
Em Cidadela, livro inacabado de Antoine de Saint-Exupéry, a certa altura o autor, poeticamente, sentencia, como um pai: “Quero que amem as águas vivas das fontes. E a superfície ininterrupta da cevada verde, recozida na crepitação do verão. Quero que glorifiquem o regresso das estações. Quero que se alimentem, semelhantes a frutos que se realizam, de silêncio e de vagar. Quero que chorem por muito tempo os seus lutos, que prestem demoradas homenagens aos mortos, porque a herança passa lentamente de geração para geração. O que não quero é que derramem seu mel pelo caminho (grifo meu)”. Por falta de proteção (familiar e social), de carinho e de sentido para a vida, os jovens têm derramado seu mel pelo caminho, extraviados por vias tortas, como a das drogas, por exemplo.
E todos temos culpa neste cenário.
Felizmente, a população tem cada vez mais cobrado medidas do Poder Público. Na última quinta-feira, os moradores do Pestano protestaram contra a morte de Eduardo Soares, 17, assassinado a tiros na porta de casa. Cerca de 150 pessoas participaram do manifesto. Pneus foram queimados na rótula da Zeferino Costa e Leopoldo Brod. A situação chegou ao limite do intolerável.
Os membros dos órgãos de segurança estaduais, que sofrem na pele com o parcelamento de salários e com a precária estrutura, têm feito o possível para combater a criminalidade e até mesmo alcançado, incrivelmente, excelentes resultados em diversas operações. Faltam, porém, ações que não operem somente no nível, ainda indispensável, da repressão, mas que busquem também compreender o problema a partir da necessidade de promover a dignidade humana pela inclusão social. Sem isso, apenas contabilizaremos mortes. Desperdiçaremos mel pelo caminho.
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